terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Meu mais novo livro


Feito com todo carinho pela editora OrganoGrama Livros, está quase pronto o meu novo livro, chamado Contos do 9º andar. São dois contos escritos e guardados há alguns anos na gaveta, e que agora estão vindo à luz do dia. Fico muito feliz com este lançamento e espero que meus amigos e familiares gostem deste presentinho de natal que preparei.



Coordenação editorial | Lucas Viriato
Edição e Coordenação gráfica | Lucas Viriato
Produção editorial | Santiago Perlingeiro
Arte da capa | Fernando Brum
Foto de capa | Carlos Meijueiro
Design | Abreu’s System
Revisão | Myriam Bastos


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Jordana


Quando meu avô morreu, houve um leilão da casa onde morávamos, na Rua Senador Vergueiro nº 32. Era a casa onde eu havia nascido, e ficamos sem ter onde morar aqui no Rio. Então, depois de uma longa conversa entre os membros da família, resolvemos ir para Petrópolis, onde meu avô tinha diversas casas. Escolheríamos uma para morar. Além disso, havia a facilidade de a escola ser a mesma que a do Rio, Colégio Notre Dame de Sion. Minha avó havia sido a primeira aluna desse colégio, e por isso fomos logo matriculadas, eu e minha irmã, Lúcia.

A casa era de parede e meia com a de meu avô, de diversos quartos e bem grandes. No dia seguinte, fomos ao colégio para conhecer as freiras e as meninas. Conheci três novas alunas que logo seriam minhas colegas: Beatriz Amoroso Costa, Helena Rezende, e a terceira era desconhecida, mas em breve faríamos amizade. A irmã que seria nossa professora avisou que uma das nossas futuras colegas era judia, portanto, não precisaria assistir às aulas de religião. Na mesma hora, essa aluna, que se chamava Jordana, levantou e disse que assistiria a todas as aulas, não importando quais fossem. Houve uma troca de palavras ríspida entre a professora e Jordana, mas depois ficou bem claro que prevaleceu o desejo da aluna. Isso significava que a vontade de Jordana era muito mais forte. 

Jordana nunca deixou de tomar parte nas aulas de religião. Discutia conosco e com suas amigas como se partilhássemos da mesma fé. Lembro-me que dizia que os católicos podiam conversar com Deus chamando-O pelo nome verdadeiro, Javé. Além disso, podíamos conversar com Ele do mesmo modo como conversamos com os nossos pais. Era tão dedicada às aulas de religião que suas notas eram as maiores da classe. 

O pai de Jordana chamava-se Doutor Guido e sua mãe Dora. Doutor Guido era de uma alegria imensa, já a mãe era menos espontânea. Lembro-me de passar horas inteiras me divertindo com o Doutor Guido. Quando conversava com ele, em companhia de Arnaldo, meu futuro marido, terminávamos sempre às gargalhadas. Surgiu daí uma amizade sólida e alegre, que incluía também Jordana que, como o pai, emprestava um sorriso largo a tudo que fazia. A irmã mais velha, chamada Franca, era casada com um rabino de Buenos Aires e tinha quatro filhos homens. Todos os quatro já tinham estado em Israel, nas fazendas experimentais, trabalhando como colonos, mas nenhum servira ao Exército. Através das amizades, meu pai acabou sendo apresentado a eles — tinham aqueles traços característicos de Jordana, a alegria dela.

Os quatro primos argentinos de Jordana procuravam arranjar-lhe casamento, pois que, assim como todos na família, não gostavam do atual namorado, Rogério Rodrigues. Mancomunados com o restante dos familiares, tinham marcado um encontro com um rapaz argentino de boa aparência. Quando ela viu seu retrato, ficou imediatamente encantada. Este rapaz resolveria todos os seus problemas, tendo em vista que ela, sendo judia, teria de casar com um judeu. Quem não gostou foi o seu então namorado, ao saber do encontro com o tal argentino. Inclusive, ficou fora de si quando ela contou que iria acabar com a relação. Apesar do desespero do namorado, Jordana estava decidida a deixá-lo.

Rogério insistia em se encontrarem mais uma vez para um chá de despedida, no que, sentindo pena, ela acabou aceitando. Iriam até a Barra da Tijuca, num lugar cheio de pequenos restaurantes. Foi o começo do fim de Jordana. Rogério já tinha armado seu plano. Aluno da universidade de química, planejou que neste encontro mataria Jordana e poria fim à própria vida. Ele levou o veneno, fortíssimo, que tinha tirado do laboratório da escola. Serviu o chá para ela e uma outra xícara para si. Houve uma pequena discussão sobre o fato de ela desejar acabar o namoro. Ele adoçou e bebeu o chá de uma só vez,enquanto ela o fez como uma pessoa normal faria, colocou o açúcar e bebeu um gole — o açúcar era o veneno. Ele caiu morto, e ela, tendo provado apenas um gole, que lhe corroeu o interior, levantou com um grito e caiu morta logo depois. Os dois tombaram no chão do restaurante.

No dia seguinte, como de costume, meu irmão Jorge comprou o jornal — o jornal matutino — onde estava na primeira página a notícia da morte do casal, que fizera um pacto de morte na Barra. Então, ele imediatamente avisou à minha mãe para que eu não lesse e nem visse a notícia, mas não teve como esconder, porque em pouco tempo todos ficaram sabendo.

A campainha lá de casa tocou. Era o Doutor Guido, desesperado com o fato. Ele só pensava numa coisa: que haveria uma investigação criminal, o que significava que fariam uma autópsia. Ele implorou ao Arnaldo, invocando sua amizade, que fosse assistir à autópsia e, chorando, com lágrimas rolando pelo rosto, pediu que ele não deixasse ninguém abusar do corpo de Jordana. Arnaldo atendeu ao pedido do Doutor Guido, assistindo à autópsia, quando foi constatado que ambos morreram envenenados; ele conscientemente e ela, inocente, tomando o veneno sem saber.

Aí veio o procedimento do funeral, para a família e os amigos, arrasados. Nunca mais haveria a alegria de Jordana.

Marina V. Medeiros

quarta-feira, 19 de março de 2014

Etceteras para download!



Agora você pode baixar o meu livro Etceteras (OrganoGrama, 2013) no formato Kindle pelo site da Amazon, através do link: baixe aqui! Ainda não conhece o livro? Agora você tem uma ótima oportunidade para tê-lo sem sair de casa! 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Ode a um sorriso


Teu sorriso, minha filha,
me aquece e me inspira.
É tão puro, é tão doce
é a inocência que nele floresce.
Teu sorriso, minha filha,
é o remédio que me alivia
da falta de outro sorriso
que há tanto não me acaricia.

Marina V. Medeiros

Esse poema está publicado em meu livro Etceteras (OrganoGrama, 2013).

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Versos eróticos


In memoriam de Arnaldo V. Medeiros


I.

Nas curvas do meu corpo
Tuas mãos tangem
Frêmitos pré-orgásticos
Tuas mãos abrem meu corpo
Para a entrada do teu
Tuas mãos
Donas do meu gozo
Cúmplices do meu desejo


II.

Meus lábios buscam teus beijos
E descem sôfregos atrás
Do jorro do teu corpo
Néctar do nosso desejo


III.

Nossa cama
Arena de nossos
Embates acrobáticos
Guarda os segredos
E o perfume
Do nosso amor


IV.

Dás à outra o que me pertence...
Uma sombra de culpa
Perpassou em teu olhar
Enquanto sussurravas: "perdoa".

Tuas mãos em concha colhem meus seios
E as brumas do ciúme e da mágoa
Esvaindo-se deixam ver
Teu membro hirto e fremente no qual monto
E num coito a galope
Tombo em teu peito arfante
Balbuciando: "amor, eu te perdoo".


V.

Nossos lábios presos num beijo ardente se separam
E tua língua, qual cobra ondulante, rasteja
Pelo meu corpo até a minha fenda aberta
Onde entra.

Teu membro pende qual teta enorme
Que empunho e, em movimentos rápidos de ordenha,
Faço jorrar teu sêmen que sugo
Com avidez.

Enquanto dois orgasmos
Violentos e simultâneos
Nos deixam semidesfalecidos.


VI.

Em fim.....
O casal de amantes
Entrelaçados com ternura
Seus desejos sexuais saciados
Sentem uma onda avassaladora
Invadir suas almas
De um profundo e imensurável amor.

Marina V. Medeiros

Poemas retirados do meu livro Etceteras (OrganoGrama Livros, 2013).