quinta-feira, 24 de março de 2011

O cu do coronel

            Genessy Ladeira era uma alagoana viciada em sexo anal. Justamente por causa desse vício, tinha nádegas volumosas, porém firmes, que chamavam a atenção de quem a conhecia.
            Coronel Lucindo de Collor Melo não era parente do presidente, mas fazia questão de insinuar que era, por causa do seu sobrenome. Ele era coronel, não de alguma força armada, mas do tipo coronel do norte, cuja tropa era de jagunços que faziam todas as falcatruas pelo seu chefe.
O Coronel tinha verdadeira adoração por Lampião e, por causa disso, recebeu o apelido de “coronel Lamparina”. Quando estava em Alagoas, frequentava os bordéis da região e, por isso, um dia foi parar naquele onde estava Genessy, de cuja fama já tinha ouvido falar. Logo da primeira vez ficou alucinado por suas nádegas e por sua habilidade em fazer sexo anal. Quando viu suas nádegas, abriu o seu rego encontrando seu ânus, que era bem alargado pelo uso.
Depois dessa primeira vez, entrou em contato com a dona do bordel e comprou a moça. Levou-a para o Rio de Janeiro, onde tinha dois sobrados alugados na Lapa. Um para sua turma de jagunços e outro para suas orgias sexuais. Colocou-a em um deles e botou toda a jagunçada tomando conta, avisando que qualquer um que usasse a moça, ou melhor, seu cu, iria se transformar em comida de jacaré. Era dessa forma que os condenados por roubo, assassinato e outras coisas mais eram mortos, e ninguém mais os encontrava. Acabavam nas lagoas da Barra da Tijuca.
Acontece que, enquanto ele dormia no hotel da Glória, a jagunçada toda, os empregados da padaria, do barzinho que ficava em baixo do sobrado, todos entravam na fila para conhecer o famoso cu. Apesar dos avisos da jagunçada, que dizia que aquele que ele era o cú do coronel e que tomassem cuidado. Mas a fama se propagou na mesma velocidade do vício de Genessy. Para ela, todos tinham vez e logo ficou sendo conhecida como o “cu do coronel”.
Essa alcunha ocasionou momentos desagradáveis ao Coronel, quando um ou dois viciados em cu o procuravam querendo conhecer o “dele”. Na mesma hora foram para na lagoa. Mas a lenda corria depressa, e até hoje é contada não só no Rio de Janeiro, mas nas ruelas da Gamboa. Dizem que os contadores do norte também ajudaram a propagá-la em seus versos de cordel.
Essa é a lenda do cu do coronel.

Marina V. Medeiros

sexta-feira, 11 de março de 2011

Amor Viúvo

O tempo passa e a saudade
teima em trazer recordações.
Seus pedidos de sexo
sussurrados em meus ouvidos,
suas mãos cobrindo
minhas curvas de carícias,
seu corpo pesando
em cima do meu,
nos levando ao êxtase.
Ah, meu amado,
até quando esse amor viúvo
destroçará meu coração?
Tu, com ternura,
responderias mais uma vez
usando a palavra mágica
do nosso amor: “Toujours”.


Marina V. Medeiros

domingo, 6 de março de 2011

Os órfãos

Eram três irmãos. Maria, de doze anos. João, de sete anos. Ana, de cinco anos. Ficaram órfãos depois que seus pais morreram em um desastre perto de Barbacena, quando o jipe com um grupo de jovens alcoolizados entrou de repente na rodovia, vindo de uma estrada vicinal. O pai das crianças deu uma guinada para fugir da colisão, mas, ao fazer isto, passou para a contramão e bateu de frente com um caminhão-tanque cheio de gasolina. Houve uma explosão e os dois veículos pegaram fogo.
Os meninos foram parar em um educandário de irmãs de caridade (aquelas com chapéus grandes), onde ficaram à espera de adoção. A madre superiora, Margareth, condoída com a má sorte das crianças, tratou logo de procurar uma nova família. Os meninos eram muito unidos, e os dois menores chamavam de mãezinha a irmã mais velha. Enquanto estavam no educandário a espera de adoção, Maria ia diariamente à capela rezar em frente à estátua da Virgem segurando o menino com as duas mãos, como se tentasse fazê-lo andar.
No dia que apareceu um casal interessado em João e Ana, Maria, com o coração oprimido pela possibilidade de se separar dos irmãos, foi rezar na capela para a Virgem, em agradecimento, apesar de tudo. Quando tirou do rosto as mãos, que estavam molhadas de lágrimas, seu coração saltou dentro do peito: a Virgem sorria para ela. Maria esfregou os olhos como se estivesse vendo o que não existia e se retirou da capela.
Logo encontrou a irmã Margareth, que lhe disse para logo pegar os pertences dos irmãos e seus brinquedos, que consistiam em um caminhão de madeira e uma boneca de cabelos desgrenhados. Maria foi buscar tudo e colocou dentro de uma sacola entregando à irmã Margareth, que levou junto aos meninos no parlatório. Maria não quis acompanhar, preferiu não assistir à entrega dos irmãos à família e voltou para a capela. Logo ao encontrar Maria, a irmã foi ao encontro dela dizendo para também juntar seus pertences, pois a família a levaria junto.
A menina, rapidamente, ainda sob o efeito da emoção, juntou suas coisas. Mas, antes de ir ao parlatório, resolveu entrar na capela para agradecer à Virgem. Chorando, cobriu o rosto com as mãos e rezou intimamente. Novamente olhou para a Virgem e, desta vez, viu que não era a Virgem que sorria e sim o menino. Maria, com o coração cheio de alegria e louvor, acompanhou a irmã Margareth ao parlatório.

Marina V. Medeiros