domingo, 6 de março de 2011

Os órfãos

Eram três irmãos. Maria, de doze anos. João, de sete anos. Ana, de cinco anos. Ficaram órfãos depois que seus pais morreram em um desastre perto de Barbacena, quando o jipe com um grupo de jovens alcoolizados entrou de repente na rodovia, vindo de uma estrada vicinal. O pai das crianças deu uma guinada para fugir da colisão, mas, ao fazer isto, passou para a contramão e bateu de frente com um caminhão-tanque cheio de gasolina. Houve uma explosão e os dois veículos pegaram fogo.
Os meninos foram parar em um educandário de irmãs de caridade (aquelas com chapéus grandes), onde ficaram à espera de adoção. A madre superiora, Margareth, condoída com a má sorte das crianças, tratou logo de procurar uma nova família. Os meninos eram muito unidos, e os dois menores chamavam de mãezinha a irmã mais velha. Enquanto estavam no educandário a espera de adoção, Maria ia diariamente à capela rezar em frente à estátua da Virgem segurando o menino com as duas mãos, como se tentasse fazê-lo andar.
No dia que apareceu um casal interessado em João e Ana, Maria, com o coração oprimido pela possibilidade de se separar dos irmãos, foi rezar na capela para a Virgem, em agradecimento, apesar de tudo. Quando tirou do rosto as mãos, que estavam molhadas de lágrimas, seu coração saltou dentro do peito: a Virgem sorria para ela. Maria esfregou os olhos como se estivesse vendo o que não existia e se retirou da capela.
Logo encontrou a irmã Margareth, que lhe disse para logo pegar os pertences dos irmãos e seus brinquedos, que consistiam em um caminhão de madeira e uma boneca de cabelos desgrenhados. Maria foi buscar tudo e colocou dentro de uma sacola entregando à irmã Margareth, que levou junto aos meninos no parlatório. Maria não quis acompanhar, preferiu não assistir à entrega dos irmãos à família e voltou para a capela. Logo ao encontrar Maria, a irmã foi ao encontro dela dizendo para também juntar seus pertences, pois a família a levaria junto.
A menina, rapidamente, ainda sob o efeito da emoção, juntou suas coisas. Mas, antes de ir ao parlatório, resolveu entrar na capela para agradecer à Virgem. Chorando, cobriu o rosto com as mãos e rezou intimamente. Novamente olhou para a Virgem e, desta vez, viu que não era a Virgem que sorria e sim o menino. Maria, com o coração cheio de alegria e louvor, acompanhou a irmã Margareth ao parlatório.

Marina V. Medeiros

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