Eram três irmãos. Maria, de doze anos. João, de sete anos. Ana, de cinco anos. Ficaram órfãos depois que seus pais morreram em um desastre perto de Barbacena, quando o jipe com um grupo de jovens alcoolizados entrou de repente na rodovia, vindo de uma estrada vicinal. O pai das crianças deu uma guinada para fugir da colisão, mas, ao fazer isto, passou para a contramão e bateu de frente com um caminhão-tanque cheio de gasolina. Houve uma explosão e os dois veículos pegaram fogo.
Os meninos foram parar em um educandário de irmãs de caridade (aquelas com chapéus grandes), onde ficaram à espera de adoção. A madre superiora, Margareth, condoída com a má sorte das crianças, tratou logo de procurar uma nova família. Os meninos eram muito unidos, e os dois menores chamavam de mãezinha a irmã mais velha. Enquanto estavam no educandário a espera de adoção, Maria ia diariamente à capela rezar em frente à estátua da Virgem segurando o menino com as duas mãos, como se tentasse fazê-lo andar.
No dia que apareceu um casal interessado em João e Ana, Maria, com o coração oprimido pela possibilidade de se separar dos irmãos, foi rezar na capela para a Virgem, em agradecimento, apesar de tudo. Quando tirou do rosto as mãos, que estavam molhadas de lágrimas, seu coração saltou dentro do peito: a Virgem sorria para ela. Maria esfregou os olhos como se estivesse vendo o que não existia e se retirou da capela.
Logo encontrou a irmã Margareth, que lhe disse para logo pegar os pertences dos irmãos e seus brinquedos, que consistiam em um caminhão de madeira e uma boneca de cabelos desgrenhados. Maria foi buscar tudo e colocou dentro de uma sacola entregando à irmã Margareth, que levou junto aos meninos no parlatório. Maria não quis acompanhar, preferiu não assistir à entrega dos irmãos à família e voltou para a capela. Logo ao encontrar Maria, a irmã foi ao encontro dela dizendo para também juntar seus pertences, pois a família a levaria junto.
A menina, rapidamente, ainda sob o efeito da emoção, juntou suas coisas. Mas, antes de ir ao parlatório, resolveu entrar na capela para agradecer à Virgem. Chorando, cobriu o rosto com as mãos e rezou intimamente. Novamente olhou para a Virgem e, desta vez, viu que não era a Virgem que sorria e sim o menino. Maria, com o coração cheio de alegria e louvor, acompanhou a irmã Margareth ao parlatório.
Marina V. Medeiros
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