quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uma anedota na roça


Mané Olimpo e Zé do Brejo são dois roceiros empregados do fazendeiro Orestes, que era dono da maior parte das terras da região. O patrão encumbiu os dois caipiras a ir desbravar um sítio que havia comprado. O sítio era muito distante da civilização e para se chegar na cidade mais próxima, tinha-se que andar três dias. Carro não chegava lá, pois atravessava riacho onde a ponte estava prestes a cair, subia morrete, atravessava mata fechada cheia de animais ferozes até chegar ao vilarejo onde havia o primeiro sinal de civilização: que era a casa do vigário. Lá, não havia nada além de sua moradia, nem telefone, nem posto médico ou policial.
Já no local, cada um dos caipiras começou a trabalhar o terreno com suas ferramentas. O tempo passou depressa, sem se darem conta. Foi no terceiro mês de trabalho duro que aconteceu um grande imprevisto. Zé do Brejo da um grito de repente e cai no chão contorcendo-se de dor. Mané Olimpo ainda tem tempo de ver a cobre altamente venenosa arrastar-se no chão até entrar em um pequeno buraco na terra. Sem pensar duas vezes, ele rasga um pedaço de sua camisa e entrega ao amigo para amarrar no local da picada e foi depressa buscar socorro. Andando rápido, por vezes correndo, começa a longa viagem. E, para o azar do amigo que ficara agonizando, como se não bastassem todos os obstáculos, começara a chover. No caminho, dizia palavras que lembrava das orações da mãe: “Jesus, Maria e José!”.
Chegando ao vilarejo, teve a sorte de encontrar um amigo do pároco que estava visitando-o. Mané Olimpo apressou-se em contar a história do amigo, que tinha acontecido já há três dias. Após ouvir atentamente, o amigo do padre se apresentou: “Meu nome é doutor Homero.”. Mané Olimpo exclamou: “Graças a Deus! A cura chegou pro meu amigo Zé do Brejo.”. O médico começou a explicar os procedimentos: “No lugar da picada da cobra você faz um pequeno corte com uma faca e suga todo o veneno. Mas chupe todo o veneno e bote pra fora, não engole. Faça isso chupando muito e cuspindo tudo fora.”. Agradeceu ao médico e voltou correndo para salvar o amigo dizendo baixinho: “Jesus, Maria, José, aguente firme, meu quase irmão, Zé do Brejo, estou levando a cura…”.
Depois de dias de caminhada, avistou ao longe o amigo caído e gritou: “Aprendi a cura!”. Então perguntou ao amigo, já com a faca na mão para cortar e chupar o veneno: “Onde a cobra te picou, Zé?”. Zé do Brejo, agonizando, aponta para o pênis, roxo, todo inchado, e pede ao amigo: “Salva minha vida, Mané…”. Mané Olimpo arregalou os olhos, ficou de pé e falou: “Então… Eu falei com o doutor e ele disse que você vai morrer mesmo!”. Mané não quis chupar o pinto do amigo, nem para salvar a sua vida. Não há relatos sobre o final dessa história, mas, provavelmente, ele não foi nada feliz.

Marina V. Medeiros
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