segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Salomão de Nova Jerusalém

Salomão Miranda Neto era um músico especializado em formar corais nas escolas primárias de sua cidade natal, Nova Jerusalém. Aquela onde durante a semana santa eram encenadas as Vias Sacras.
            Mas, Salomão tinha um sonho: formar um coral como aquele dos Meninos Cantores de Viena que ele assistira na televisão.
            Ele tinha dois ajudantes, um que cuidava das passagens e hospedagens dos meninos e o outro que ajudava ele a encontrar as vozes necessárias para a formação do coral. Principalmente aquela voz que os meninos têm antes de alcançarem a fase da adolescência.
            Antigamente, na Idade Média, estas vozes especiais eram chamadas de castratos, que quer dizer “castrados”. E era o que faziam com os meninos. Mas hoje em dia, isto não existe mais. O necessário é procurar meninos que tenham voz mais fina antes dessa transição.
            O seu sonho de criar um coral de meninos cantores de Nova Jerusalém ocupou muitos anos de sua vida. Quando percebeu, seu coração já dava sinais de cansaço e ele já estava com sessenta anos. Mas conseguira realiza-lo. E hoje, seria a noite de estréia desse seu coral, cantando o Glória, do menino músico prodígio Mozart, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
            Ele sentara-se na última cadeira da platéia esperando a abertura das cortinas. Quando isto aconteceu, ao ver os meninos todos perfilados, seu coração não agüentou... Ele sentiu uma dor aguda que lhe tirou o fôlego e a vida. Seu corpo escorregou, os joelhos encostando na poltrona da frente, seu queixo tombou sobre seu peito e Salomão Miranda Neto de Nova Jerusalém subiu entre um coro de anjos ao encontro do outro Salomão da Jerusalém Eterna que cantavam o Glória dos Reis dos Reis.

Marina V. Medeiros

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